Mundo islâmico 19/10/2012 - Veja
Paquistanesa Malala Yousafzai já consegue ficar em pé
Após ataque, ativista de 14 anos está internada em um hospital na Grã-Bretanha
Malala Yousafzai, a
jovem paquistanesa baleada na cabeça pelo talibã, conseguiu ficar em pé com a ajuda da equipe médica pela primeira vez desde o atentado, informaram nesta sexta-feira os doutores responsáveis por seu tratamento em um hospital britânico.
A garota também está se comunicando com algumas notas por escrito, explicou o doutor Dave Rosser, diretor-médico do Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, no centro da Inglaterra, para onde a adolescente foi transferida na segunda-feira.
Caso - No dia 9 de outubro, Malala, uma ativista do direito feminino à educação de apenas 14 anos, foi alvo de um ataque em Mingora, noroeste do Paquistão. A garota foi atingida por tiros no ombro e na cabeça. Na segunda-feira,
ela foi transferida a Birmingham (Grã-Bretanha), para um hospital que atende os soldados feridos no Afeganistão.
(Com agência France-Presse)
Taleban ameaça jornalistas que condenaram ataque à blogueira Malala Yousafzai
Redação Portal IMPRENSA | 17/10/2012 18:00
Nesta quarta-feira (17/10), a Associação de Jornais Impressos do Paquistão, que representa os principais veículos de imprensa do país, condenou as ameaças feitas pelo Taleban contra os jornalistas que estão cobrindo o atentado sofrido pela blogueira ativista Malala Yousafzai, de 14 anos, que luta pelo direito das mulheres frequentarem a escola, informou o portal iG.
Segundo a Associação, a intimidação realizada por integrantes do Taleban “representa uma tentativa de acabar com a liberdade de expressão”. O portal informa que autoridades do governo paquistanês interceptaram uma ligação telefônica na qual um dos líderes do Taleban ordenava um militante a atacar representações de jornais e revistas em cidades como Lahore, Karachi, Rawalpindi e na capital Islamabad.
A menina Malala Yousafzai, que mantém campanhas pelo direito à educação de garotas e foi baleada por militantes do Taleban na semana passada, “não será poupada caso sobreviva”, disse um porta-voz do grupo extremista.
Paquistão
Malala Yousafzai, a menina que lutou contra taliban, luta agora contra a morte
Público - 12.10.2012 - 18:53 Por Cláudia Sobral
Eram muitas as noites em que Malala Yousafzai sonhava com soldados, helicópteros ou os taliban, também muitas aquelas em que não conseguia dormir. Mas tudo ficou ainda pior no dia em que a sharia(lei islâmica) passou a ser lei no Vale de Swat – uma concessão do Governo paquistanês para o cessar-fogo com os combatentes na região, em 2009.
Na noite de 14 de Fevereiro o pai pegava no rádio uma última vez para ter a certeza que nada tinha mudado, num gesto meio ingénuo, quase ridículo. Na manhã seguinte terminava o prazo dado pelos taliban: mais nenhuma menina poderia ir à escola. Malala, que já era conhecida pela sua luta pelo direito das mulheres à educação, foi. Apesar do medo.
“No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido para a cara, fazer o que entenderem”, dizia então ao New York Times, que a acompanhava para o documentárioClass Dismissed. “Mas eles não podem parar-me, eu vou ter a minha educação.” Tinha 11 anos.
No diário que escrevia para o site da BBC Urdu ja nessa altura (que assinava com o nome Gul Makai), descrevia a vida na sua cidade, Mingora, controlada pelos taliban. Insurgia-se sobretudo pelo direito das mulheres à educação. Via outros activistas mortos e exibidos pelas ruas e praças de Mingora, e sabia que um dia poderia chegar a sua vez.
Quando na terça-feira regressava da escola, apareceram dois homens armados que a atingiram na cabeça e num ombro. Gravemente ferida, está em estado crítico num hospital militar em Rawalpindi, a recuperar de uma operação à cabeça. Os próximos dias serão cruciais, não se sabe se sobreviverá ou não.
A jovem activista paquistanesa de 14 anos era já um símbolo da resistência contra os taliban do Paquistão – venceu o National Peace Award for Youth, no Paquistão, e foi nomeada para o International Children’s Peace Prize, da Dutch Kids Rights Foundation. Mas nos últimos dias o país esteve como nunca de olhos postos nela.
As orações semanais desta sexta-feira foram dedicadas a Malala por todo o Paquistão, dois dias antes as escolas tinham estado fechadas. O Presidente Asif Ali Zadari condenou o ataque, quis que ela fosse tratada no Dubai. No Vale de Swat são organizados protestos.
Os taliban já garantiram que se sobreviver voltarão a atacar. “Apesar de ela ser nova e uma menina e de os taliban não acreditarem em ataques a mulheres, qualquer um que faça campanha contra o islão e a sharia deve ser morto, segundo a sharia”, explicava há dias o porta-voz do grupo no comunicado em que o ataque foi reivindicado. “Não é apenas permitido matar uma pessoa assim, mas obrigatório.”
“Claro que vão tentar matá-la”, escreve o editor de política internacional da Slate. “Uma adolescente a falar no direito das mulheres à educação é a coisa mais assustadora no mundo para os taliban”, escreveu. “Ela não pertence a uma ONG estrangeira. Ela é muito mais perigosa do que isso: uma local, defensora do progresso da educação e do esclarecimento. Se pessoas como ela se multiplicarem os taliban não têm futuro.”
Pelo Paquistão já outras adolescentes disseram que não deixarão que o que aconteceu a Malala tenha sido em vão. Os dirigentes políticos fizeram o mesmo.
Um ícone
“Malala é o nosso orgulho. Tornou-se num ícone para o país”, disse o ministro do Interior, Rehman Malik. O primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, foi visitá-la e pediu a todos os líderes paquistaneses que se juntassem a ele e o chefe das Forças Armadas, Ashfaq Parvez Kayani, afirmou que chegou a hora de “combater os que propagam esta mentalidade bárbara e os seus simpatizantes”.
Também Bushra Gohar, do Partido Nacional Awami, parte da frágil coligação governamental com o Partido do Povo do Paquistão (PPP) e no poder no Vale de Swat, já disse no Parlamento que “o tempo para acabar com o terrorismo chegou”.
Se este levará de facto à tomada de passos concretos na luta contra os taliban, que mantêm os alguns dos seus santuários no Norte, não se sabe ainda. Acontecerá o mesmo que em 2009, quando foi lançada uma grande ofensiva aos taliban depois de um vídeo de uma adolescente a ser espancada por um combatente? Para já não há movimentações militares no Vale de Swat, escreve o New York Times citando oficiais paquistaneses.O ataque contra a jovem activista, explicou num debate da Al-Jazira o presidente da Associação de Advogados Paquistaneses, Ahmad Malik, “prejudica a imagem do Paquistão tolerante que Malala representava”. Convidada no mesmo programa, Rubina Khalid, do PPP, disse que sentiu vergonha. “Não podíamos protegê-la e ela estava a lutar por aquilo por que devíamos ter sido nós a lutar. Devíamos ter sido nós na linha da frente, não ela.”
Malala dizia que queria estudar para ser médica. Mas esse era o seu sonho, como explicou numa das entrevistas para o documentário do New York Times. O pai queria que fizesse carreira na política. “Vejo um grande potencial nela. Ela pode criar uma sociedade em que um estudante de medicina possa facilmente tirar o seu doutoramento.”