sábado, 27 de outubro de 2012

SOS - Nação Indigena




Governo do RJ compra antigo Museu do Índio e deve demolir prédio por reforma do Maracanã

Vinicius Konchinski  
 Do UOL, no Rio de Janeiro
O governo do Rio de Janeiro acertou a compra do antigo Museu do Índio. O edifício histórico, que pertence à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve agora ser demolido para dar espaço a adequações do entorno do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

COMO FICARÁ O MARACANÃ

  • Veja o vídeo sobre o projeto de reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014. A obra deve custar R$ 859 milhões e será paga pelo governo do Rio de Janeiro. A previsão de entrega é fevereiro de 2013
A venda foi confirmada na quarta-feira pela Conab, órgão ligado ao governo federal. Pelo prédio e o terreno que ele ocupa, o governo do Rio de Janeiro pagará R$ 60 milhões. O valor foi determinado por uma avaliação feita pela Caixa Econômica Federal e aprovado em reunião da diretoria da companhia realizada no último dia 10.
De acordo com a Conab, a posse do imóvel deve ser repassada ao Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Somente algumas questões burocráticas precisam ser resolvidas antes da transferência da propriedade e para que o governo possa pôr em prática seu plano para a área.
Há um mês, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, informou que já negociava com a Conab a compra do imóvel. Segundo ele, as adequações do Maracanã para a Copa do Mundo e a Copa das Confederações, no ano que vem, já previam que o prédio do antigo Museu do Índio, construído no século 19, desse lugar a uma área livre para que pessoas circularem perto do estádio. O próprio vídeo da reforma do Maracanã para a Copa já mostra a área sem o antigo museu (veja ao acima). 
"Ali vai ser uma área de mobilidade. Uma área que é exigida pela Fifa e que está correta", afirmou Cabral, em entrevista coletiva na véspera do aniversário de 62 anos do Maracanã.

CONHEÇA A ALDEIA MARACANÃ

  • Veja como vivem os índios que ocupam a área do antigo Museu do Índio, que deve ser demolido durante a reforma do Maracanã
Todo esse projeto, porém, é uma ameaça para cerca de 20 índios que ocupam aquela área há seis anos. Quando chegaram lá, o local estava abandonado. Tempos depois, eles construíram casas ali e transformaram o prédio do museu em um centro cultural improvisado.
Atualmente, eles lutam pela posse da área para transformá-la em um pólo de referência para a cultura indígena. “Queremos criar um local que servirá para toda a população indígena do Brasil. Não vamos desistir disso”, afirmou Carlos Tucano, um dos líderes dos índios que vivem no terreno do museu, ao ser informado da negociação da área pela reportagem do UOL.
Perguntada sobre o destino dos índios que vivem no terreno do museu, a Conab informou que estuda uma forma para removê-los dali e realocá-los em um outro local. Procurado pelo UOL, o governo do Rio de Janeiro confirmou que fez uma proposta para compra do imóvel, mas disse que ainda não foi notificado oficialmente pela Conab para saber se companhia iria mesmo vendê-lo. Por isso, o governo não iria se pronunciar sobre a negociação nem sobre os planos para a área.

Índios temem ser expulsos de terreno abandonado ao lado do Maracanã

Foto 1 de 7 - Índio fuma dentro do Museu do Índio, abandonado desde 2006 e localizado em frente ao estádio do Maracanã em reforma, no Rio de Janeiro. Um grupo de 17 índios de diversas etnias que ocupa o local teme que as obras para a Copa do Mundo os expulssem de lá. Está prevista a construção de um estacionamento com 10 mil vagas no entorno Sergio Moraes/Reuters

Obras da Copa

Foto 1 de 200 - Em 23/10/2012, mais da metade das cadeiras do Mineirão, sede da Copa 2014, já estava instalada Sylvio Coutinho/Divulgação

 

863 índios se suicidaram desde 86… e quase ninguém viu ou soube

Terra Magazine - Bob Fernandes - 23/10/2012
Nas últimas semanas, além do futebol de sempre, dois assuntos ocuparam as manchetes: o julgamento do chamado "mensalão" e, na campanha eleitoral em São Paulo, o programa de combate à homofobia, grotescamente apelidado de "Kit Gay". Quase nenhuma importância se deu a uma espécie de testamento de uma tribo indígena. Tribo com 43 mil sobreviventes.
A Justiça Federal decretou a expulsão de 170 índios da terra em que vivem atualmente. Isso no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, à margem do Rio Hovy. Isso diante de silêncio quase absoluto da chamada grande mídia. (Eliane Brum trata longamente do assunto no site da revista Época nesta segunda-feira, 22). Há duas semanas, numa dramática carta-testamento, os Kaiowá-Guarani informaram:
- Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje (…) Comemos uma vez por dia.
Em sua carta-testamento os Kaiowá-Guarani rogam:
- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
Diante dessa história dantesca, a vice-procuradora Geral da República, Déborah Duprat, disse: "A reserva de Dourados é (hoje) talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo". 
Em setembro de 1999, estive por uma semana na reserva Kaiowá-Guarani, em Dourados. Estive porque ali já se desenrolava a tragédia. Tragédia diante de um silêncio quase absoluto. Tragédia que se ampliou, assim como o silêncio. Entre 1986 e setembro de 1999, 308 índios haviam se suicidado. Em sua maioria, índios com idade variando dos 12 aos 24 anos. 
Suicídios quase sempre por enforcamento, ou por ingestão de veneno. Suicídios por viverem confinados, abrutalhados em reservas cada vez menores, cercados por pistoleiros ou fazendeiros que agiam, e agem, como se pistoleiros fossem. Suicídios porque viver como mendigo ou prostituta é quase o caminho único para quem é expelido pela vida miserável nas reservas.
Italianos e um brasileiro fizeram um filme-denúncia sobre a tragédia. No Brasil, silêncio quase absoluto; porque Dourados, Mato Grosso, índios… isso está muito longe. Isso não dá ibope, não dá manchete. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque, esse índice é de 93 pessoas para cada 100 mil.
Desde fins de 1999, quando, pela revista Carta Capital, estive em Dourados com o fotógrafo Luciano Andrade, outros 555 jovens Kaiowá-Guarani se suicidaram no Mato Grosso do Sul, descreve Eliane Brum. Sob aterrador e quase absoluto silêncio. Silêncio dos governos e da chamada mídia. Um silêncio cúmplice dessa tragédia.

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Malala Yousafzai - Torcendo por vc


Mundo islâmico 19/10/2012 - Veja

Paquistanesa Malala Yousafzai já consegue ficar em pé

Após ataque, ativista de 14 anos está internada em um hospital na Grã-Bretanha

Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa baleada na cabeça pelo talibã, conseguiu ficar em pé com a ajuda da equipe médica pela primeira vez desde o atentado, informaram nesta sexta-feira os doutores responsáveis por seu tratamento em um hospital britânico.
A garota também está se comunicando com algumas notas por escrito, explicou o doutor Dave Rosser, diretor-médico do Hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, no centro da Inglaterra, para onde a adolescente foi transferida na segunda-feira.
Caso - No dia 9 de outubro, Malala, uma ativista do direito feminino à educação de apenas 14 anos, foi alvo de um ataque em Mingora, noroeste do Paquistão. A garota foi atingida por tiros no ombro e na cabeça. Na segunda-feira, ela foi transferida a Birmingham (Grã-Bretanha), para um hospital que atende os soldados feridos no Afeganistão.
Saiba mais: Suspeitos de atirar em menina ativista são detidos no Paquistão

O ataque provocou uma grande comoção em todo o mundo e no Paquistão, onde um sentimento antitalibã foi registrado em várias regiões do país de mais de 180 milhões de habitantes, palco do aumento do fundamentalismo religioso nos últimos anos.
(Com agência France-Presse)


Taleban ameaça jornalistas que condenaram ataque à blogueira Malala Yousafzai

Redação Portal IMPRENSA 17/10/2012 18:00
Nesta quarta-feira (17/10), a Associação de Jornais Impressos do Paquistão, que representa os principais veículos de imprensa do país, condenou as ameaças feitas pelo Taleban contra os jornalistas que estão cobrindo o atentado sofrido pela blogueira ativista Malala Yousafzai, de 14 anos, que luta pelo direito das mulheres frequentarem a escola, informou o portal iG.



Segundo a Associação, a intimidação realizada por integrantes do Taleban “representa uma tentativa de acabar com a liberdade de expressão”. O portal informa que autoridades do governo paquistanês interceptaram uma ligação telefônica na qual um dos líderes do Taleban ordenava um militante a atacar representações de jornais e revistas em cidades como Lahore, Karachi, Rawalpindi e na capital Islamabad.

A menina Malala Yousafzai, que mantém campanhas pelo direito à educação de garotas e foi baleada por militantes do Taleban na semana passada, “não será poupada caso sobreviva”, disse um porta-voz do grupo extremista.




Paquistão

Malala Yousafzai, a menina que lutou contra taliban, luta agora contra a morte

Público - 12.10.2012 - 18:53 Por Cláudia Sobral
Eram muitas as noites em que Malala Yousafzai sonhava com soldados, helicópteros ou os taliban, também muitas aquelas em que não conseguia dormir. Mas tudo ficou ainda pior no dia em que a sharia(lei islâmica) passou a ser lei no Vale de Swat – uma concessão do Governo paquistanês para o cessar-fogo com os combatentes na região, em 2009.
Na noite de 14 de Fevereiro o pai pegava no rádio uma última vez para ter a certeza que nada tinha mudado, num gesto meio ingénuo, quase ridículo. Na manhã seguinte terminava o prazo dado pelos taliban: mais nenhuma menina poderia ir à escola. Malala, que já era conhecida pela sua luta pelo direito das mulheres à educação, foi. Apesar do medo.

“No caminho para a escola eles podem matar-nos, atirar-nos com ácido para a cara, fazer o que entenderem”, dizia então ao New York Times, que a acompanhava para o documentárioClass Dismissed. “Mas eles não podem parar-me, eu vou ter a minha educação.” Tinha 11 anos.

No diário que escrevia para o site da BBC Urdu ja nessa altura (que assinava com o nome Gul Makai), descrevia a vida na sua cidade, Mingora, controlada pelos taliban. Insurgia-se sobretudo pelo direito das mulheres à educação. Via outros activistas mortos e exibidos pelas ruas e praças de Mingora, e sabia que um dia poderia chegar a sua vez.

Quando na terça-feira regressava da escola, apareceram dois homens armados que a atingiram na cabeça e num ombro. Gravemente ferida, está em estado crítico num hospital militar em Rawalpindi, a recuperar de uma operação à cabeça. Os próximos dias serão cruciais, não se sabe se sobreviverá ou não.

A jovem activista paquistanesa de 14 anos era já um símbolo da resistência contra os taliban do Paquistão – venceu o National Peace Award for Youth, no Paquistão, e foi nomeada para o International Children’s Peace Prize, da Dutch Kids Rights Foundation. Mas nos últimos dias o país esteve como nunca de olhos postos nela.

As orações semanais desta sexta-feira foram dedicadas a Malala por todo o Paquistão, dois dias antes as escolas tinham estado fechadas. O Presidente Asif Ali Zadari condenou o ataque, quis que ela fosse tratada no Dubai. No Vale de Swat são organizados protestos.

Os taliban já garantiram que se sobreviver voltarão a atacar. “Apesar de ela ser nova e uma menina e de os taliban não acreditarem em ataques a mulheres, qualquer um que faça campanha contra o islão e a sharia deve ser morto, segundo a sharia”, explicava há dias o porta-voz do grupo no comunicado em que o ataque foi reivindicado. “Não é apenas permitido matar uma pessoa assim, mas obrigatório.”

“Claro que vão tentar matá-la”, escreve o editor de política internacional da Slate. “Uma adolescente a falar no direito das mulheres à educação é a coisa mais assustadora no mundo para os taliban”, escreveu. “Ela não pertence a uma ONG estrangeira. Ela é muito mais perigosa do que isso: uma local, defensora do progresso da educação e do esclarecimento. Se pessoas como ela se multiplicarem os taliban não têm futuro.”

Pelo Paquistão já outras adolescentes disseram que não deixarão que o que aconteceu a Malala tenha sido em vão. Os dirigentes políticos fizeram o mesmo.


Um ícone

“Malala é o nosso orgulho. Tornou-se num ícone para o país”, disse o ministro do Interior, Rehman Malik. O primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, foi visitá-la e pediu a todos os líderes paquistaneses que se juntassem a ele e o chefe das Forças Armadas, Ashfaq Parvez Kayani, afirmou que chegou a hora de “combater os que propagam esta mentalidade bárbara e os seus simpatizantes”.

Também Bushra Gohar, do Partido Nacional Awami, parte da frágil coligação governamental com o Partido do Povo do Paquistão (PPP) e no poder no Vale de Swat, já disse no Parlamento que “o tempo para acabar com o terrorismo chegou”.

Se este levará de facto à tomada de passos concretos na luta contra os taliban, que mantêm os alguns dos seus santuários no Norte, não se sabe ainda. Acontecerá o mesmo que em 2009, quando foi lançada uma grande ofensiva aos taliban depois de um vídeo de uma adolescente a ser espancada por um combatente? Para já não há movimentações militares no Vale de Swat, escreve o New York Times citando oficiais paquistaneses.O ataque contra a jovem activista, explicou num debate da Al-Jazira o presidente da Associação de Advogados Paquistaneses, Ahmad Malik, “prejudica a imagem do Paquistão tolerante que Malala representava”. Convidada no mesmo programa, Rubina Khalid, do PPP, disse que sentiu vergonha. “Não podíamos protegê-la e ela estava a lutar por aquilo por que devíamos ter sido nós a lutar. Devíamos ter sido nós na linha da frente, não ela.”

Malala dizia que queria estudar para ser médica. Mas esse era o seu sonho, como explicou numa das entrevistas para o documentário do New York Times. O pai queria que fizesse carreira na política. “Vejo um grande potencial nela. Ela pode criar uma sociedade em que um estudante de medicina possa facilmente tirar o seu doutoramento.”