terça-feira, 26 de outubro de 2010

Presidente ou Presidenta?

Enviado por Andréa Goulart, em 26/10/2010


O Dicionário Aurélio ensina que o feminino de presidente é presidenta. É isso mesmo, com o “a” no final. Talvez seja um pouco estranho ao ouvido por falta de costume. Sobre o assunto o Prof. Hélio Consolaro explica:



A predominância do masculino na língua reflete o machismo. Se houver numa sala 39 mulheres e um homem, o orador deverá usar o masculino na sua invocação: prezados senhores… No máximo, falará: prezadas senhoras e prezado senhor. Ofenderia o macho presente se o orador generalizar pelo feminino e dissesse apenas: prezadas senhoras.Assim, em passado recente, não havia feminino de presidente e nem de hóspede. Agora, depois da luta das mulheres na sociedade, os dicionários já registram e a gramática aceita os femininos: presidenta, hóspeda.



Por que isso não acontece na hierarquia da Polícia Militar? Na entrevista da Folha, edição de 1.º/6, Katia Damasceno Sabino foi tratada por soldado, nada de soldada.

Nenhum dicionário registra o feminino “soldada” e tampouco “sargenta”, apenas Luiz Antonio Sacconi em sua “Nossa Gramática – Teoria e Prática”, Editora Atual, admite tais flexões.



Na verdade, a Polícia Militar, com a presença da mulher em suas fileiras, mantém a estrutura machista, segura a feminização das patentes na divulgação de seus documentos oficiais. E gramáticos e jornalistas concordam com isso.Não se sabe como as soldadas se sentem sendo tratadas como homens, mas há mulheres que escrevem versos e não gostam de ser chamadas de poetisas, querem ser tratadas de poetas, acham que o feminino as desvaloriza. Isso também é machismo, e pior, machismo do feminino. Talvez seja apenas preocupação de um professor de Português e os soldados femininos estejam gostando desse tratamento.



A palavra presidente é um empréstimo de praesidens/entis , particípio presente de praesidere "sentar adiante" (e daí vários sentidos figurados). Os particípios presentes podem ter função de substantivo ou de adjetivo, mas em todo caso não possuem flexão de gênero. Porém se vê que desde o latim vulgar há uma tendência a fazer passar adjetivos da segunda (que distingue masculino e feminino dum lado e neutro doutro) e de terceira classes à primeira. Tardiamente isto aconteceu com o sufixo -ês, que vem de -ensis (m. e f.)/-ense (n.): no português antigo ainda lhe faltava a flexão de gênero, mas no fim do período ganhou um feminino: -esa. Quem sabe no século XIV também houvesse sensibilidades que se molestavam com se dizer uma mulher portuguesa, mas no século seguinte esquisito devia ser dizer uma mulher português. Legal mesmo é que em sardo "um homem inglês" é unu òmine ingresu!



Acho que o melhor é não sofrer... afinal, ninguém tem controle sobre isto: a mudança que todas as línguas naturais vivas sofrem. A propósito, em espanhol la presidenta é o normal.

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