terça-feira, 29 de julho de 2008
Defesa da Amazônia Azul é estratégica
Camila Arêas, Jornal do Brasil
[20:26] - 26/07/2008
RIO - Chamado de Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro, duas vezes
maior que o Estado do Amazonas, entrou no foco das preocupações políticas.
No momento em que os mais recentes poços de petróleo encontrados pela
Petrobras encostam no limite de 200 milhas náuticas da área considerada de
exploração exclusiva do Brasil, a reativação em junho da Quarta Frota da
Marinha americana para operações militares nas Américas do Sul, Central e
Caribe, conjuga um quadro de inquietação.
Potências estrangeiras têm interesses econômicos e estratégicos na questão.
Os Estados Unidos não são signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar (CNUDM), o acordo internacional que estabelece o limite dos
mares territoriais de cada nação costeira, do qual o Brasil é signatário
desde 1982. E, mês passado, reativaram a Quarta Frota, unidade naval que,
segundo o Pentágono, vai patrulhar águas internacionais da costa
sul-americana.
Por iniciativa do senador Pedro Simon, a Comissão de Relações Exteriores do
Senado decidiu escrever uma carta dirigida aos candidatos à Presidência dos
Estados Unidos, Barack Obama e John McCain. No documento, foi formalizada a
preocupação do Senado brasileiro com a reativação da Frota.
- O Brasil precisa defender seu mar territorial, pois é nessa área que está
o petróleo cobiçado em todo o mundo. O ministério da Defesa prevê que os
próximos poços descobertos ultrapassem a extensão de soberania brasileira.
As riquezas em alto-mar se valorizaram muito nos últimos anos. De um lado
estão as riquezas marítimas da plataforma continental e de outro a Amazônia,
está claro que a não assinatura do acordo é uma estratégia dos EUA.
*Ouro negro*
Geógrafo da USP, Aziz Nacib Ab' Saber sustenta a preocupação do ministério
da Defesa em relação a novas descobertas de petróleo com base na teoria da
formação das bacias sedimentares:
- No período de separação entre a América do Sul e a África, ambas costas
foram inundadas com bolos sedimentares de algas e restos de animais. Em
seguida, levantaram-se os blocos continentais e as bacias sedimentares se
aprofundaram, gerando um aquecimento geotérmico que acelerou a transformação
deste bolo biogênico em óleo. O petróleo é fruto do movimento tectônico.
O geógrafo conclui que "entre América do Sul e África há muito petróleo que
ultrapassa nossa extensão marítima", ressaltando ser preciso "defender o
patrimônio, que parte inalienável da soberania brasileira".
A camada pré-sal, com reservatórios biogênicos que se estendem por 800 km do
Espírito Santo a Santa Catarina, pode conter um volume de petróleo capaz de
colocar o Brasil entre as maiores potências petrolíferas. Até agora, a
Petrobras estimou apenas as reservas do campo de Tupi, em entre 5 a 8
bilhões de barris de óleo, mas fala-se em 33 bilhões de barris só na bacia
de Santos.
O Brasil já negocia com a França um acordo para a construção de um submarino
à propulsão nuclear que ajudaria na proteção dessas áreas.
Perito brasileiro da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC)
junto à ONU, o oficial da Marinha Alexandre Tagore Albuquerque pondera que
"em todas as declarações do governo americano consta a afirmação de que
respeitarão a jurisdição dos Estados costeiros em relação aos seus espaços
marítimos", mas ressalta a soberania brasileira:
- Limites de fronteira são uma questão de Estado que invariavelmente
envolvem a economia, posto que em última análise o território terrestre ou
marítimo será sempre importante fonte de recursos naturais. O interesse de
qualquer potência estrangeira não pode ir além do que preconiza o direito
internacional. É disso que tratamos.
A Quarta Frota atuou entre os anos de 1943 e 1950 e foi reativada mês
passado, sem explicações ou aviso prévio aos países da região que vai
patrulhar. O sobressalto levou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a dizer
que "Os EUA poderão atuar em áreas não jurisdicionais brasileiras. Aqui não
entra!".
Simon conta que o chanceler Celso Amorim "recebeu um telefonema da
secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, desculpando-se por não ter
se dirigido antes aos governos da América Latina".
O senador questiona por que um presidente em final de mandato como George
Bush tomou uma atitude como esta sem consultas.
- Por isso queremos saber qual é a posição dos presidenciáveis americanos
sobre o tema - insiste. - É uma disputa nova, sem experiências antecedentes.
É necessário abrir um diálogo com os presidentes latinos.
Jobim declarou que uma das prioridades da política nacional de defesa, que
será anunciada dia 7 de setembro, reestruturar os conceitos da defesa da
soberania nacional. Nesse sentido, chegou a defender que a Petrobras
colabore com o reaparelhamento da Marinha, que receberia parte dos royalties
resultantes da exploração de petróleo.
Colaboração: Eliane Quagliani
[20:26] - 26/07/2008
RIO - Chamado de Amazônia Azul, o território marítimo brasileiro, duas vezes
maior que o Estado do Amazonas, entrou no foco das preocupações políticas.
No momento em que os mais recentes poços de petróleo encontrados pela
Petrobras encostam no limite de 200 milhas náuticas da área considerada de
exploração exclusiva do Brasil, a reativação em junho da Quarta Frota da
Marinha americana para operações militares nas Américas do Sul, Central e
Caribe, conjuga um quadro de inquietação.
Potências estrangeiras têm interesses econômicos e estratégicos na questão.
Os Estados Unidos não são signatários da Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar (CNUDM), o acordo internacional que estabelece o limite dos
mares territoriais de cada nação costeira, do qual o Brasil é signatário
desde 1982. E, mês passado, reativaram a Quarta Frota, unidade naval que,
segundo o Pentágono, vai patrulhar águas internacionais da costa
sul-americana.
Por iniciativa do senador Pedro Simon, a Comissão de Relações Exteriores do
Senado decidiu escrever uma carta dirigida aos candidatos à Presidência dos
Estados Unidos, Barack Obama e John McCain. No documento, foi formalizada a
preocupação do Senado brasileiro com a reativação da Frota.
- O Brasil precisa defender seu mar territorial, pois é nessa área que está
o petróleo cobiçado em todo o mundo. O ministério da Defesa prevê que os
próximos poços descobertos ultrapassem a extensão de soberania brasileira.
As riquezas em alto-mar se valorizaram muito nos últimos anos. De um lado
estão as riquezas marítimas da plataforma continental e de outro a Amazônia,
está claro que a não assinatura do acordo é uma estratégia dos EUA.
*Ouro negro*
Geógrafo da USP, Aziz Nacib Ab' Saber sustenta a preocupação do ministério
da Defesa em relação a novas descobertas de petróleo com base na teoria da
formação das bacias sedimentares:
- No período de separação entre a América do Sul e a África, ambas costas
foram inundadas com bolos sedimentares de algas e restos de animais. Em
seguida, levantaram-se os blocos continentais e as bacias sedimentares se
aprofundaram, gerando um aquecimento geotérmico que acelerou a transformação
deste bolo biogênico em óleo. O petróleo é fruto do movimento tectônico.
O geógrafo conclui que "entre América do Sul e África há muito petróleo que
ultrapassa nossa extensão marítima", ressaltando ser preciso "defender o
patrimônio, que parte inalienável da soberania brasileira".
A camada pré-sal, com reservatórios biogênicos que se estendem por 800 km do
Espírito Santo a Santa Catarina, pode conter um volume de petróleo capaz de
colocar o Brasil entre as maiores potências petrolíferas. Até agora, a
Petrobras estimou apenas as reservas do campo de Tupi, em entre 5 a 8
bilhões de barris de óleo, mas fala-se em 33 bilhões de barris só na bacia
de Santos.
O Brasil já negocia com a França um acordo para a construção de um submarino
à propulsão nuclear que ajudaria na proteção dessas áreas.
Perito brasileiro da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC)
junto à ONU, o oficial da Marinha Alexandre Tagore Albuquerque pondera que
"em todas as declarações do governo americano consta a afirmação de que
respeitarão a jurisdição dos Estados costeiros em relação aos seus espaços
marítimos", mas ressalta a soberania brasileira:
- Limites de fronteira são uma questão de Estado que invariavelmente
envolvem a economia, posto que em última análise o território terrestre ou
marítimo será sempre importante fonte de recursos naturais. O interesse de
qualquer potência estrangeira não pode ir além do que preconiza o direito
internacional. É disso que tratamos.
A Quarta Frota atuou entre os anos de 1943 e 1950 e foi reativada mês
passado, sem explicações ou aviso prévio aos países da região que vai
patrulhar. O sobressalto levou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a dizer
que "Os EUA poderão atuar em áreas não jurisdicionais brasileiras. Aqui não
entra!".
Simon conta que o chanceler Celso Amorim "recebeu um telefonema da
secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, desculpando-se por não ter
se dirigido antes aos governos da América Latina".
O senador questiona por que um presidente em final de mandato como George
Bush tomou uma atitude como esta sem consultas.
- Por isso queremos saber qual é a posição dos presidenciáveis americanos
sobre o tema - insiste. - É uma disputa nova, sem experiências antecedentes.
É necessário abrir um diálogo com os presidentes latinos.
Jobim declarou que uma das prioridades da política nacional de defesa, que
será anunciada dia 7 de setembro, reestruturar os conceitos da defesa da
soberania nacional. Nesse sentido, chegou a defender que a Petrobras
colabore com o reaparelhamento da Marinha, que receberia parte dos royalties
resultantes da exploração de petróleo.
Colaboração: Eliane Quagliani
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