domingo, 30 de outubro de 2016
Quem disse que saia é coisa de mulher?
Quem disse que saia é coisa de mulher?
Márcia Neves
Niterói - 30/10/2016
Me conta, em que planeta? É por implicância ou ignorância mesmo? Nunca
ouviu falar em Sarongue, ou sarung? Sabe, aquela saia muito usada pelos homens na
maior parte do Sul da Ásia, Sudeste Asiático, Península Arábica, África e em
muitas ilhas do Pacífico. Ou o Dhote, um outro tipo de saia usada por vários
homens na Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal. E não vou nem falar das
túnicas, sabe aquele vestido largo... Ah, as túnicas, as belas túnicas de
algodão egípcias masculinas, bom... A lista não vai parar se eu começar a
divagar por aqui.
“Tá, mas Márcia, essas coisas
não se usam aqui”, diz o cidadão, com falsa polidez e o dedo levantado.
Eu, de forma nada refinada, respondo que temos a nossa querida saia
escocesa, não é mesmo? Que não podemos nos esquecer do kilt, a saia masculina
escocesa, que acreditasse seja de origem irlandesa.
Mas aí, novamente aquele cidadão que manda bem... Mal diz: “Não, o homem
sempre usou calça e a mulher saia, isso não está certo, é impor o errado!”
O que fazemos?
Mandamos o cidadão buscar nos livros de história até a Grécia Antiga,
berço da civilização ocidental, pois o que encontraremos nos livros? Registros!
Sim, registros de homens vestidos com túnicas e saias da Antiguidade até a
Revolução Francesa, no final do século XVIII. Sim, é verdade, está tudo lá. Basta
o cidadão se dar ao trabalho de procura e ler.
Nesse exato momento você leitor deve estar perplexo: “Como assim,
Márcia, aquele cidadão não ganha um resumo? Um diagrama? Nem uma figurinha para
completar os pontos ao menos? Você não está sendo egoísta?”
Tô, e daí? Se a gente fala/escreve é arrogante, presunçosa, então vai
pesquisar! Mas se não divide é egoísta? Não justifica, correto? Vou dividir, sim... Mas o cidadão que ligue os
pontinhos, eu não vou ficar segurando a caneta, isso eu me recuso! Bom, então
lá vai o resumo do resumo, e que só não posso chamar de sinopse porque não tem
avant-première.
Ao contrário da saia, a calça é que pode ser considerada recente no
vestuário masculino ocidental. Os indícios das primeiras calças são do século
VI a.C. e pertenciam ao vestuário persa. Peritos em cavalaria, homens e
mulheres a usavam e eram considerados ridículos pelos europeus ocidentais. A
calça só é inicialmente adotada no Império Bizantino durante a Antiguidade
Tardia e Idade Média devido a sua praticidade.
Na França, em particular, a transição final do uso da saia pelos homens
para a calça é marcada no final do Século XVIII, um pouco antes da Revolução
Francesa, e inicio XIX. Esse período é subdivido em outros três períodos:
Diretório, 1789 a 1799, Império, 1800 a 1815, Regência, 1815 a 1825. A
influência vem da Inglaterra, com a busca pela simplicidade e o abandono as roupas
da corte, sendo a referência as roupas rurais inglesas. Sendo que no primeiro
período ocorre a adoção das calças dos marinheiros e do proletariado.
O retorno da saia masculina é
uma questão de convenção social, basta que um grupo expressivo passe a usá-la
que será reintegrada ao guarda roupa masculino ocidental. O estilista francês
Jean-Paul Gaultier, defensor das saias masculinas, chegou a patrocinar a
exposição “Men in Skirts” (Homens de Saias), cuja estreia foi em Paris no
Victoria and Albert Museum, 2002, seguindo para Nova Iorque no Metropolitan
Museum of Art, homens vestindo saias
como “o futuro da moda masculina”. Pois é, e viva a liberdade do ventinho entre
as pernas, VIVA, VIVA, VIVA!!!
Dedicado a cada cidadão que disse que saia é coisa de mulher.
Márcia Moreira Neves – Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/
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