segunda-feira, 1 de outubro de 2018

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Protejam a nossa Região Oceânica

 Ao Excelentíssimo Senhor Rodrigo Neves
Prefeito Municipal
Niterói – RJ

Os cidadãos abaixo-assinados, residentes e domiciliados na Região Oceânica de Niterói - RJ, tendo em vista o projeto “Niterói Que Queremos”, e a construção da “ciclovia funcional educativa e turística”, nas palavras do Sr. Axe Grael, TV OFLU.12/03/2017, secretário-executivo, que unirá os bairros desde o Cafubá até Itacaotiára, incluindo Camboinhas, onde se encontra uma das principais vias de conexão, a Av. Dr. José Geraldo Bezerra de Menezes, estando na Região Lagunar, mais precisamente no entorno do mangue da Lagoa de Itaipu, pertencente ao Parque da Tiririca, e que vem sofrendo constantes ataques de violência ambiental/urbana, em geral, solicitam de Vossa Excelência as seguintes demandas:

1.1. Uma cabine da Policia Militar na entrada da Av. Dr. José Geraldo Bezerra de Menezes, entre o mercado Diamante e o estacionamento; 1.2. Instalação de câmeras em pontos estratégicos nas ruas do entorno do mangue integradas ao Cisp; 2. Redutores de velocidade em toda a extensão da Av. Dr. José Geraldo Bezerra de Menezes, do retorno até o canal de conexão das lagoas de Itaipu e Piratininga; 3. Sinalização em todas as ruas adjacentes a avenida e ao mangue; 4. Lixeiras; 5. Limpeza/manutenção das ruas no entorno do mangue ao menos uma vez por semana; 6. Iluminação adequada nas ruas do entorno do mangue.

Na certeza de termos nossos pleitos atendidos, encaminhamos este documento em formato digital e em folhas numeradas e assinadas em duas vias a serem protocoladas por seu gabinete.

Mais informações
Márcia Neves – marcia.neves@gmail.com
Fernando Roig – fvroig@gmail.com
Whatsapp – 21-98747-6958
Niterói, 11 de maio de 2018.

Link para assinar

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Las Vegas e a questão do armamento

Eu tenho as minhas bandeiras, não são poucas, e elas podem mudar a qualquer momento. Me  rotular seria perder tempo. Mas algumas são imutáveis, acredito eu. A questão do armamento é uma delas. Podem chegar com aquele papo de "O cidadão de bem tem q se defender", q... meu irmão: não cola!!!

Bicho, o cara acabou de matar 50 em Las Vegas, porém o número pode aumentar, pois ele feriu mais de 400 em um show. Ele tinha namorada, não tinha antecedentes criminais, não era filiado a grupos radicais e tinha a posse das armas. Todo no padrão. E aí? A justificativa é q foi exceção? Então fala pra família q perdeu o ente q é só estatística. E esse é só um dos motivos q sou contra a liberação, mas é suficiente por hoje.

Já existem profissionais preparados para usar armamento,  ou pelo menos deveria. Nem discuto o assunto, sou radical meXXXmo! 🙄

Original publicado primeiro no Facebook no café da manhã.

quarta-feira, 8 de março de 2017

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Eu sou uma pessoa iludida e feliz


Eu sou uma pessoa iludida e feliz



Márcia Neves

Niterói, 21/11/2016.



“Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados.”. MICHAEL ALEXANDROVICH BAKUNIN





Eu me iludo todos os dias. Escamoteio deliberadamente os meus sentido todos os dias e amo fazer isso. Eu olho para o céu e penso no seu tom agradável de azul do amanhecer, ou alaranjado do entardecer, e ignoro que é um fenômeno físico que ocorre na atmosfera, denominado de espalhamento de Rayleigh. Eu olho para o mar e admiro as suas nuances entre o verde, o azul e o chumbo ignorando que de fato a água é transparente e o que vejo é o reflexo das partículas de areia e de microrganismos atingidos pela luz solar e acho o máximo.



Sonhar é o que me faz continuar, e se isso me faz ser uma iludida, eu sou uma iludida. Então, me chamem de iludida. Eu realmente gosto de ser uma iludida. Eu quero sonhar. Quero embaralhar (ainda mais) a minha mente e desejar muito um país incrível.



Eu amo sonhar acordada e me iludir que coisas boas podem acontecer.  Porque talvez elas aconteçam e aí já estarei acordada e poderei vê-las. Como iludida que eu sou, eu acredito que as coisas boas vão acontecer realmente, pois sou uma iludida! Uma lógica inquestionável dos iludidos.



E como iludida que sou, acredito que dias melhores virão. Provavelmente ainda teremos alguns dias ainda piores, ou melhor, meses, talvez anos, quem sabe eu talvez nem esteja viva para ver, pois faz parte do processo, mas os dias melhores virão. O Rio de Janeiro vai se estabilizar. O Brasil se desenvolverá de forma sustentável. Cotas para mulheres, negros, índios e deficientes serão algo do passado e não haverá mais ódio com relação ao “diferente”, pois seremos uma sociedade consciente e igualitária de fato.  



Então, é assim que ficamos. Sim, eu sou uma iludida, logo eu sonho e almejo o impossível que é possível. E como toda iludida eu também sou redundante, pois o iludido reforça a sua ilusão, do contrário seria só um pensamento vago. Por conseguinte, sou persistente como um sabujo, que mesmo com o nariz ensanguentado não perde a sua pista, assim sou eu com os meus sonhos. Mas antes uma redundante e alegre sonhadora, que acredita que algo bom pode acontecer, do que uma infeliz, rabugenta, sem esperanças, que vive pelos cantos lamuriando-se da vida. Uma salva para nós, os iludidos esperançosos!



Márcia Moreira Neves

Jornalista e escritora -  https://sites.google.com/site/marcianeves/

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Fomos criados para ser intolerantes


Fomos criados para ser intolerantes



Márcia Neves

Niterói, 08/11/2016.



O tema desse ano do Enem me fez remoer o meu tempo de escola. Se você perguntar para alguém da minha geração vão dizer, na grande maioria, que não havia intolerância religiosa. Todos comemoravam o Dia de Cosme e Damião na cidade do Rio de Janeiro em harmonia. Na virada do ano todos tomavam passe na Praia de Copacabana em paz. As pessoas podiam usar seus colares de contas sem medo pelas ruas e os terreiros não eram atacados. Católicos, espiritas, evangélicos, candomblecistas, umbandistas, budistas, judeus e outros viviam como uma bela família na cidade de São Sebastião. Não é? Mentira.



No meu tempo de escola a coisa não era aberta como agora. Não se ofendia a religião do colega abertamente. Os pastores não iam para a televisão quebrar imagens ou demonizar outras religiões. Não se formavam hordas para atacar fisicamente membros de outras religiões, até mesmo crianças, mas ainda assim havia a crueldade. A crueldade estava presente. Ela era sutil, muitas vezes nem tanto, mas estava presente todos os dias nos moldando. Nos tornando cidadãos “de bem”, devidamente institucionalizados e divididos em castas através da exclusão religiosa.



Eu estudei em um colégio tradicional católico, que era gerido por freiras rígidas quanto ao nosso comportamento. Quando vagávamos pelo corredor no horário da aula e a expectora nos pegava: -“O que estão fazendo, andando como um judeu errante? Quem é a sua professora?”. Se uma coleguinha de classe pisava em seu pé fosse por brincadeira, ou sem querer, nós dizíamos: - “O de baixo é meu, o de cima é do judeu”, ou a outra pessoa não sairia de cima do seu pé. São tantos os exemplos que não caberia nessa postagem, mas o melhor: éramos piedosamente orientadas a não “judiar” dos mais fracos. Câmara Cascudo, no Dicionário do Folclore Brasileiro, se refere a judiar: “Como reminiscência religiosa permanece no espírito popular a figura do judeu como símbolo da malvadez absoluta, alegrando-se com o sofrimento alheio, egoísta, insensível, imperturbável de orgulho (…)”.



Pouco a pouco nossas mentes infantis eram moldadas através das expressões linguísticas. O poder do plano simbólico é imensurável. E quando se trata de religião a questão se torna ainda mais complexa, tamanha é a riqueza da fonte. A incrível crueldade está na sutileza. É como curvar a madeira, existem as técnicas mais simples, como mergulhar na água, e as mais complexas, como a torção de várias chapas. Mas o que importa mesmo é o resultado e o destino do uso. Porém, ah, o porém, o terrível porém...



Qual religião é a verdadeira? Existe uma religião verdadeira? Pois é, e para quem ainda está rodando no entorno do seu próprio umbigo, a pesquisa Major Religions of the World Ranked by Number of Adherents (Se você não a conhece, clique aqui) identificou que 2,5% da população mundial é constituída por ateus e por 12,7% de não-religiosos. A parcela dos “Nonreligius”, que abrange várias correntes (agnósticos, ateus, sem religião...), corresponde a 16% do planeta, com 1,1 bi e tende a crescer. Essa parcela só perde para o cristianismo, 2,1 bi,  islamismo, 1,5 bi. Com isso podemos concluir que: semear intolerância não rende bons resultados.



Márcia Moreira Neves

Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O meu corpo ainda não me pertence, talvez um dia.


O meu corpo ainda não me pertence, talvez um dia.



Márcia Neves

Niterói, 03/11/2016.



Meu corpo, minhas regras, uma falácia. Talvez na Islândia, ou na Noruega, ou quem sabe a Finlândia... Bom, Suécia e Irlanda também estão na lista. já que são considerados os países mais igualitários para mulheres e homens, mas aqui... Não, não mesmo. Esse artigo poderia ser sobre aborto, mas como não vivemos em um país laico de fato, cabe um post somente sobre esse tema: “O bem-estar da mulher brasileira, ou devo dizer, mal-estar”. Eu vou falar sobre a falsa sensação que temos de sermos donas das nossas ações. Não vou pegar pesado, vou dar pequenos exemplos, bem corriqueiros e de fácil degustação da minha própria vida, se é que podemos dizer que qualquer exemplo dessa natureza é leve ou de fácil degustação, mas comparados com outros...



Quando adolescente eu era a vadia do prédio em que morávamos. Só porque eu tinha amigos meninos. É isso mesmo, acreditem! Nós nos reuníamos na nossa casa depois da escola para estudar. Eu saia com eles para as festinhas no bairro e íamos ao cinema. Coisas inocentes, nada escandaloso, mas incomodava alguns vizinhos.



Aí eu cresci. Fui para a faculdade, comecei a trabalhar e sair à noite com as minhas amigas. Pronto, ganhei fama de sapatão no mesmo prédio. Se eu fosse, tudo bem! Mas eu não era. Chega a ser ridículo isso, mas é verdade...  Sabem por quê? Porque eu não queria saber de namorar ou noivar. Eu queria curtir a vida do meu jeito. Sair, viajar, estudar, trabalhar. Mas e se eu fosse homem, teriam me julgado? Bobinha eu, claro que não!



Roupa, nunca segui “tendências” da moda. Mas o pior sapo que engoli foi em uma determinada instituição financeira. Todos os colegas homens usando calça jeans e tênis. Penso: “Eu também posso”. Como fui inocente. Depois de uma semana usando jeans e tênis, mesmo sendo recorde em produtividade, sou chamada na sala do gerente geral. Motivo: vestimenta inadequada para atender o público. OI? E todos os colegas HOMENS? Era diferente, eles eram homens, eles podiam. Só me lembro de sair da sala da gerencia engolindo o choro de raiva.



Tenho a lembrança de um colega, na mesma instituição, mas em outra agência, que fedia absurdamente. Ninguém tinha a coragem de mandá-lo tomar banho. No dia em que cansei do cabelo longo e o cortei bem mais curto, uau! TODOS vieram me perguntar por que eu tinha feito aquela “monstruosidade”. Por que podiam acabar com a minha autoestima, mas com a do outro colega não? No caso dele era uma questão sanitária, no meu era uma escolha pessoal estética. Pessoal... Hum, até parece. Ingênua mais uma vez.



Aos 33 anos encontrei um companheiro, ou melhor, nos encontramos. De repente o mundo começou a cobrar filhos. No trabalho, fora do trabalho, na família: quando vocês vão ter filhos? Já planejaram os filhos? Essa era uma das melhores: vocês não podem ter filhos? E aí os filhos são para quando? Não tivemos filhos por escolha.  Mais de uma década depois, não nos perguntam mais. E aí uma surpresa, com o tempo os amigos com filhos se afastaram e os amigos sem filhos se aproximaram. Até então eu não sabia que havia uma separação. É, é assim que funcionam as coisas: divisões invisíveis que você nem sabia que existiam, mas que estão lá. E novas divisões significa novas barreiras a serem quebradas.



Desmontar normas estabelecidas, padrões considerados como os corretos, implica em sofrer penalidades. Um alto preço é cobrado. A liberdade de ser dona do seu próprio corpo não é de graça. Nós temos que estar preparadas. Mas ainda não é para a minha geração, pois são custos tão elevados, que temos que pagar de forma parcelada.



Márcia Moreira Neves – Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Lei Maria da Penha, Zé Maria, chame como quiser, mas saiba antes o que é!


Lei Maria da Penha, Zé Maria, chame como quiser, mas saiba antes o que é!



Márcia Neves

Niterói, 01/11/2016



Quem ainda não ouvi essa: “E a Lei Zé Maria para os homens?”, hum? Nooossa, é chato, né? Eu fico com vergonha alheia. Eu finjo que não escutei. Quase sempre é um carinha achando que está sendo engraçado. Mas outro dia fiquei chocada, era um professor! É muito triste escutar um colega falando isso. Um professor, NÃO! E vamos combinar, ser homem também não é justificativa... E essa “coisa encruada” que a Lei Maria da Penha substitui todas as leis (Se você não conhece a Lei 11.340/06 clique aqui). Aconteceu um desentendimento no trabalho com o chefe, a colega já grita do fundo da sala: - “ Põe a Maria da Penha nele!”. O motorista do ônibus pisou fundo e a senhora caiu, pronto: -“Maria da Penha, Maria da Penha!”. Também não é assim, gente!



Para cada situação existe uma lei especifica. O que não falta são leis no Brasil. Entretanto, não existia, até então, uma que protegesse a mulher e a família. Considerando o grande número de mulheres abusadas historicamente no ventre familiar. Visto que ela irá proteger todas as relações, incluindo mãe e filha, avós, sogra e casais do mesmo sexo. Sendo assim, podemos até mesmo dizer que é uma lei que prioriza a família, não estando de todo errado. Aí, você malandramente pode concluir: -“ Então se a esposa for a agressora o marido pode se valer da lei, certo?”.  Não é comum, já que o foco são as mulheres, principais vítimas, mas pode ser, apesar de não estar previsto na lei existem casos registrados.



O objetivo da lei são os crimes praticados com violência doméstica e familiar. Como foi o caso da própria Maria da Penha, que deu o nome a Lei. A farmacêutica bioquímica foi vítima de violência doméstica durante 23 anos. O marido tentou assassiná-la por duas vezes.  Primeiro com um tiro, deixando-a paraplégica. Depois por eletrocussão e afogamento. Sendo assim, o juiz pode fazer a sua interpretação nesse sentido. Por exemplo, o juiz Mário Roberto Kono de Oliveira, do Juizado Especial Criminal Unificado de Cuiabá, acatou os pedidos do autor de uma ação em que alegava sofrer agressões físicas, psicológicas e financeiras de sua ex-mulher. Agora a ex-mulher do autor está impedida de se aproximar dele a uma distância inferior a 500 metros, incluindo sua moradia e local de trabalho. Não pode manter contato por telefone, e-mail ou qualquer outro meio direto ou indireto. No caso do descumprimento a ex-mulher pode ser enquadrada no crime de desobediência podendo ser presa. Mas o mais comum é a utilização da Lei nº. 9.099/95 (Se você não conhece a Lei clique aqui), nessas situações.



Fique esperta/o. Ser “divertido” ou “especialista” não é sair repetindo o que outros falam sem saber ao certo. Você pode fazer feio sem saber.



Márcia Moreira Neves – Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Legalizar não é o mesmo que liberar geral, certo?


Legalizar não é o mesmo que liberar geral, certo?



Márcia Neves

Niterói - 31/10/2016



Passada a ressaca do segundo turno para prefeito da cidade do Rio de Janeiro, estou aqui recordando um encontro que tivemos, após o primeiro turno, com alguns amigos. Em algum momento conversamos sobre a legalização das drogas, se é que podemos dizer que houve uma troca ideias. Por que ainda é tão difícil falar sobre o tema?



Zona Norte do Rio, somos os últimos a chegar. Três estão tomando chope, o quarto foi fumar o seu cigarro fora do estabelecimento, quando retorna pede outro chope, somos o único casal na mesa a pedir mate. Nada surpreendente. A conversa segue morna quase choca, até que alguém levanta o tema sobre as eleições.



 Dois dizem que anularam e se justificam. Os outros dois seguem defendendo os seus candidatos. Exaltam as suas virtudes e escracham os desafetos, mas tudo na tranquilidade. Até que alguém toca no tema legalização das drogas: “Mas tem aquele candidato que é a favor de liberar geral as drogas, eu sou contra.”, fala o amigo fumante segurando o quarto chopinho gelado.  A aniversariante balança a cabeça vigorosamente concordando com o fumante, depois do terceiro chope, que, até então, era o seu rival no campo das ideias políticas.  Na onda, o primeiro a manifestar o seu voto nulo diz: “Já reparou que todos os que são a favor da legalização das drogas são drogados, maconheiros?”, já calibrado pelo quinto chope, que segundo ele é a derradeira da saideira. Salvo eu e o meu marido, todos concordam com o calibrado. Não preciso dizer que o tal candidato “maconheiro” a que se referiam, por coincidência, era o meu candidato.



Olho para o meu marido de soslaio e depois pergunto aos amigos da tulipa de forma cínica: “ Vocês estão nos chamando de drogados? De maconheiros?”. “Não, não, eu não disse isso. Vocês são exceções!”, quase aos gritos, fala o amigo mais que calibrado. “ É que vocês nunca tiveram alguém viciado na família”, mia a aniversariante... “É que é um problema de segurança...”, diz reticente o “segundo amigo nulo”, na garantia de quem só tomou dois chopes. “Eu não quero que o Rio seja uma Nova Amsterdam. Se os caras não dão conta lá, menos ainda aqui.” é categórico o fumante, ignorando a minha pergunta.



Sem entrar em detalhes, o meu marido olha para a aniversariante e troveja: “Eu tenho alguém na família”. Silêncio constrangedor e alguém puxa outra conversa morna, logo depois nos despedimos com abraços e vamos todos embora.



Mente quem disser que nunca teve/conhece um primo, irmão ou amigo com problemas ligados as drogas ilícitas. A questão é que as ilícitas já estão liberadas nas nossas ruas, não oficialmente, mas estão e sempre estiveram.  Não é algo novo, a diferença é que agora estão mais evidentes, assim como a violência que as acompanham. Ingênuos são aqueles que acreditam que elas não estão livres. O que elas não estão é legalizadas.  Há uma gigantesca diferença entre legalizar e liberar. Não estamos falando em “liberar geral”.



Em 30 /07/2015 o então secretário de Segurança do estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, deu uma entrevista para a revista Trip, e um dos tópicos abordados foi a questão  das drogas no estado (se você não leu o artigo é só clicar aqui ). Para ele o atual modelo de combate não está funcionando. Segundo o ex-secretário Beltrame, o Brasil deveria seguir o exemplo de Portugal, que atualmente é modelo mundial em prevenção à droga, após aprovar, em 2000, a lei que descriminaliza a posse e o consumo de droga. Em Portugal o problema passou a ser do Ministério da Saúde. Houve toda uma reestruturação no país. Clinicas de reabilitação foram abertas e somente por último ocorreu a descriminalização.



A legalização permite o controle desde a produção até a venda, assim como a taxação que se reverte em benefícios para a sociedade. Como já ocorre hoje com as drogas licitas que são vendidas nas farmácias com fins medicinais e as que são vendidas com fins recreativos em bares e supermercados para maiores de 18 anos, como o álcool e o tabaco e o seu estudo. 



Ela não aumenta o consumo das drogas. O que aumenta o consumo é acreditar que um sistema ultrapassado e quebrado possa funcionar. Se a proibição funcionasse as ilícitas não estariam cada vez mais potentes, baratas e acessíveis. A pergunta no título deveria ser: quem está ganhando com a não legalização das drogas?



Se não há controle de produção ou qualidade, aumentando os dependentes e impedindo campanhas institucionais, como ocorre com o cigarro e o álcool, quem lucra com a não legalização das drogas como a maconha e a cocaína, por exemplo? A indústria do vício como as clinicas privadas de reabilitação. Os contrabandistas de armas, pois eles vendem o seu arsenal para os traficantes. Os próprios traficantes. Assim como, agentes públicos que se beneficiam de um sistema falho e corrupto, entre outros.





Márcia Moreira Neves – Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/

domingo, 30 de outubro de 2016

Quem disse que saia é coisa de mulher?


Quem disse que saia é coisa de mulher?

Márcia Neves

Niterói - 30/10/2016



Me conta, em que planeta? É por implicância ou ignorância mesmo? Nunca ouviu falar em Sarongue, ou sarung? Sabe, aquela saia muito usada pelos homens na maior parte do Sul da Ásia, Sudeste Asiático, Península Arábica, África e em muitas ilhas do Pacífico. Ou o Dhote, um outro tipo de saia usada por vários homens na Índia, Paquistão, Bangladesh e Nepal. E não vou nem falar das túnicas, sabe aquele vestido largo... Ah, as túnicas, as belas túnicas de algodão egípcias masculinas, bom... A lista não vai parar se eu começar a divagar por aqui.



 “Tá, mas Márcia, essas coisas não se usam aqui”, diz o cidadão, com falsa polidez e o dedo levantado.



Eu, de forma nada refinada, respondo que temos a nossa querida saia escocesa, não é mesmo? Que não podemos nos esquecer do kilt, a saia masculina escocesa, que acreditasse seja de origem irlandesa.



Mas aí, novamente aquele cidadão que manda bem... Mal diz: “Não, o homem sempre usou calça e a mulher saia, isso não está certo, é impor o errado!”



O que fazemos?



Mandamos o cidadão buscar nos livros de história até a Grécia Antiga, berço da civilização ocidental, pois o que encontraremos nos livros? Registros! Sim, registros de homens vestidos com túnicas e saias da Antiguidade até a Revolução Francesa, no final do século XVIII. Sim, é verdade, está tudo lá. Basta o cidadão se dar ao trabalho de procura e ler.



Nesse exato momento você leitor deve estar perplexo: “Como assim, Márcia, aquele cidadão não ganha um resumo? Um diagrama? Nem uma figurinha para completar os pontos ao menos? Você não está sendo egoísta?”



Tô, e daí? Se a gente fala/escreve é arrogante, presunçosa, então vai pesquisar! Mas se não divide é egoísta? Não justifica, correto?  Vou dividir, sim... Mas o cidadão que ligue os pontinhos, eu não vou ficar segurando a caneta, isso eu me recuso! Bom, então lá vai o resumo do resumo, e que só não posso chamar de sinopse porque não tem avant-première.



Ao contrário da saia, a calça é que pode ser considerada recente no vestuário masculino ocidental. Os indícios das primeiras calças são do século VI a.C. e pertenciam ao vestuário persa. Peritos em cavalaria, homens e mulheres a usavam e eram considerados ridículos pelos europeus ocidentais. A calça só é inicialmente adotada no Império Bizantino durante a Antiguidade Tardia e Idade Média devido a sua praticidade.



Na França, em particular, a transição final do uso da saia pelos homens para a calça é marcada no final do Século XVIII, um pouco antes da Revolução Francesa, e inicio XIX. Esse período é subdivido em outros três períodos: Diretório, 1789 a 1799, Império, 1800 a 1815, Regência, 1815 a 1825. A influência vem da Inglaterra, com a busca pela simplicidade e o abandono as roupas da corte, sendo a referência as roupas rurais inglesas. Sendo que no primeiro período ocorre a adoção das calças dos marinheiros e do proletariado.



 O retorno da saia masculina é uma questão de convenção social, basta que um grupo expressivo passe a usá-la que será reintegrada ao guarda roupa masculino ocidental. O estilista francês Jean-Paul Gaultier, defensor das saias masculinas, chegou a patrocinar a exposição “Men in Skirts” (Homens de Saias), cuja estreia foi em Paris no Victoria and Albert Museum, 2002, seguindo para Nova Iorque no Metropolitan Museum of Art,  homens vestindo saias como “o futuro da moda masculina”. Pois é, e viva a liberdade do ventinho entre as pernas, VIVA, VIVA, VIVA!!!



Dedicado a cada cidadão que disse que saia é coisa de mulher.



Márcia Moreira Neves – Jornalista e escritora - https://sites.google.com/site/marcianeves/

terça-feira, 26 de abril de 2016

Lançamento do Livro: Trabalho invisível, profissão "Do Lar"

18 de maio, quarta-feira, às 19h, Livraria Prefácio, em Botafogo - RJ.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Trabalho Invisível, profissão "Do Lar"

Trabalho invisível, profissão do lar
Trata da cultura de desvalorização do serviço doméstico, da inferiorização da dona de casa, ou melhor, do indivíduo que pratica o serviço doméstico, independente de cor, credo, condição financeira, gênero ou identidade sexual.
102 páginas
ISBN 978-85-7650-513-6
1° edição, 2016.
Editora E-Papers

Brochura - Formato 14x21 cm
Arquivo Formato PDF - Aproximadamente 1,3 Mb

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Meninas indígenas são vítimas de rede de pedofilia no Alto Rio Negro (AM)

Esquema aumentou e está mais escancarado no município de São Gabriel da Cachoeira, mas não vem sendo alvo de investigação e punição
A Crítica, São Gabriel da Cachoeira, 08 de Setembro de 2012
ELAÍZE FARIAS
 Localizada no bairro Miguel Quirino, um dos mais miseráveis do município, a rua Rui Barbosa é conhecida na cidade como o local onde se dá a abordagem às vítimas.

Uma rede de pedofilia vem se consolidando no município de São Gabriel da Cachoeira (a 858 quilômetros de Manaus), no extremo norte do Amazonas, sem que os envolvidos sejam investigados e muito menos punidos. As vítimas são meninas indígenas entre 10 e 16 anos de idade. Pessoas vinculadas a instituições sociais são ameaçadas caso façam as denúncias e as vítimas são coagidas a ficarem caladas.
Nessa semana algumas pessoas ligadas a estas instituições aceitaram falar sobre os casos. Segundo elas, a exploração sexual, antes velada, tem se tornado cada vez mais escancarada. Respaldados pela falta de investigação, os exploradores sexuais e aliciadores não temem ser punidos e continuam praticando o crime contra as meninas.
Em agosto passado, seis meninas indígenas aceitaram prestar depoimento à representação da Polícia Federal em São Gabriel da Cachoeira, município onde 90% de sua população é indígena. O depoimento foi confirmado pelo representante da PF no município, Cláudio César.
O conteúdo das declarações, contudo, não foi revelado à reportagem. Cláudio disse apenas que os depoimentos farão parte de um relatório que ele enviará para a promotoria de São Gabriel da Cachoeira e para a superintendência da PF, na próxima semana.
A delegada especializada em crimes contra menor, idoso e violência doméstica de São Gabriel da Cachoeira, Ivone Rocha, confirmou a existência dessa rede, mas alegou que o órgão não tem estrutura para investigar os casos. A Polícia Civil tem apenas um investigador no município. Ela também informou que as meninas vítimas da violência sexual não costumam denunciar os suspeitos.
Comércio O comércio do sexo com crianças e adolescentes tem à frente um pequeno grupo de comerciantes “com dinheiro” que se instalou há algum tempo no município e funcionários públicos. O alvo preferido da exploração sexual são meninas virgens. Em muitas ocasiões, as meninas também acabam sendo vítimas do tráfico de drogas.
“Essa rede de pedofilia, como a gente chama, existe há muito tempo, mas aumenta a cada ano, a cada mês. Está se alastrando. Está a olho nu. Antes, estes homens pegavam meninas de 14, 16 anos. Agora, pegam meninas de 12, 11 e até 10 anos. São meninas de famílias muito pobres que vêm de suas comunidades. Sem condições financeiras, elas acabam sendo vítimas desses comerciantes”, disse uma conselheira tutelar que prefere ficar no anonimato.
Embora a abordagem dessas garotas ocorra em casas noturnas, bares e até portas de escola, o local que acabou se tornando uma espécie de ponto de encontro é a rua Rui Barbosa, no bairro Miguel Quirino, apontado como o mais pobre do município.  
“Tem menina mais velha que leva as irmãs mais novas. A menorzinha ganha apenas um biscoito, uma fruta. A maior ganha uns R$ 50. Soubemos de casos horríveis, como a menina que é levada para cinco, seis pessoas”, disse ela.
DescasoA prática da exploração sexual de menores não é recente e já foi denunciada em outras ocasiões, segundo a conselheira. “As pessoas sabem que existem. Já denunciamos ao Ministério Público, ao Fórum de Justiça, mas não passa disso. Deixamos até de ir à Polícia Civil porque nada acontece ali. Além do mais, as meninas e as famílias ficam com medo de denunciar. A cidade é muito pequena”, disse a conselheira, ela própria bastante receosa em dar esta entrevista por temer a fúria da rede que pratica a exploração sexual.
A presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente (CMDCA), irmã Justina Zanato, que acompanha algumas meninas envolvidas nesta rede, disse que já ouviu uma criança de 10 anos dizer que os homens oferecem produtos como iogurte, chocolate e frutas como pêra e uva.
MedoIrmã Justina diz que tentativas de denúncias esbarram no receio das autoridades públicas em investigar os casos. “A maioria dessas crianças e jovens entra nessa rede por falta de algum incentivo maior dentro da família ou por fome mesmo. Mas quando a gente denuncia, parece que todos têm medo. É como se alguém estivesse freando as investigações e a punição”, contou.
Medo de denunciar, omissão das autoridades públicas e ameaças explícitas são as principais causas da perpetuação e do crescimento da prática de exploração sexual, segundo uma psicóloga que atua em São Gabriel da Cachoeira e que acompanha estes casos há alguns anos.
“Todo mundo sabe quem são as pessoas. E são pessoas poderosas. Quando se faz uma tentativa de denunciar, acontecem as ameaças”, diz ela.
A psicóloga fez uma pesquisa que traçou o perfil das meninas vítimas da exploração. São, na maioria, garotas indígenas, pobres e vulneráveis socialmente que vêm das aldeias em busca de melhores condições de vida. Os praticantes são em geral homens maduros, comerciantes “estabelecidos  na cidade” que raramente vão em festas e que, aparentemente, possuem uma conduta ilibada.
AçãoUma ex-funcionária da Secretaria Estadual de Povos Indígenas (Seind), indígena da etnia baré nascida no município de São Gabriel da Cachoeira e que também teme ter seu nome divulgado, confirmou a existência desta rede e do crescimento dela. Afirmou ainda que uma tentativa de discutir o assunto foi feita há algum tempo, mas nenhuma ação efetiva foi adiante.
“A gente sabe que existe, mas precisa de provas consistentes. Deveria haver uma ação conjunta entre a Polícia Civil, a Polícia Federal, o Conselho Tutelar e o Ministério Público Federal. A Funai vai de mal a pior, a lei deixa de fazer a parte dela. E ninguém é punido”, disse a indígena.
Falta estruturaA delegada especializada em crimes contra criança e adolescente, idoso e violência doméstica de São Gabriel da Cachoeira, Ivone Rocha, disse que “sim, existe” uma rede de pedofilia naquele município, mas que é preciso a população se “conscientizar” e começar a denunciar a prática.
Questionada se a Polícia Civil poderia, a partir de denúncias já realizadas, e iniciar uma investigação mais aprofundada, ela afirmou que a instituição sofre com falta de estrutura para tal ação.
“Estou lá há um ano. As meninas não estão dispostas a denunciar. Muitas vezes inocentam o cidadão. Negam tudo. Mas algumas denúncias já estão sendo sim  apuradas, são casos mais recentes”, disse.
Conforme Ivone, além dela há apenas um policial civil para fazer o trabalho de investigação na cidade. “A gente não tem como sair procurando e intimando as pessoas. Antes eu fazia ronda. Havia quatro policiais civis e dois escrivães. Hoje, tenho apenas um investigador e um escrivão. Por isso que é preciso que as pessoas denunciem”, disse.
MisériaO presidente Federação das Organizações Indígenas da Alto Rio Negro (Foirn), Abrahão França, indígena da etnia baré, afirmou que, de fato, existe uma equipe que comanda essa situação.
“É o pessoal do comércio. O pior é que todos sabem o nome, sabem quem são a própria polícia sabe disso. Mas fica no descaso. Já ouvi dizer que existe até tabela. Se for virgem, vale tanto. A gente sabe que acontece esta situação, mas nunca avançou para denunciar. Isso até o momento. Mas o procurador do MPF está aqui esta semana em São Gabriel da Cachoeira e vamos discutir”, disse.
França afirmou que nos últimos anos este problema se agravou. Um dos motivos é que um 'parente' indígena ganhou a eleição e trouxe muitas expectativas para os que moram no interior distante.
“Muita gente veio para a cidade achando que teria emprego, mas não tem. Quando chega na cidade não tem o que fazer, não tem mais roça e não tem onde morar. Precisa comer, precisa vestir e não tem onde buscar o sustento. Aí aparecem esses homens que comandam e fazem isso”, afirmou.
IndígenaLocalizado à margem do rio Negro, São Gabriel da Cachoeira é considerado o município mais indígena do Brasil. Sua região é habitada por mais de 22 etnias diferentes.
No município, além do português, outras três línguas são consideradas oficiais: tukano, nheegantu e baniwa. Sua localização geográfica é considerada estratégica, pois faz fronteira com Colômbia, Venezuela e Peru. A área também é rica em minérios, como ouro e nióbio.
EstuproUm caso de violência sexual contra menores que chocou o conselho tutelar de São Gabriel da Cachoeira é o de uma menina indígena de 13 anos que foi estuprada no dia 8 de junho deste ano por um homem identificado com Léo. A menina, de etnia tukano e baré, que está grávida, tem um grau menor de retardo mental.
No início de agosto, ela esteve em Manaus para fazer ultrassom (não existe este serviço em São Gabriel) e sua mãe aproveitou para fazer um boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA).
Pelo relato, a menina estava indo para a escola quando foi abordada por um motorista de táxi lotação, que a estuprou em um ramal. Ela já voltou ao município e o caso foi encaminhado para a Delegacia do Interior, segundo informações da DEPCA.
Sobre este caso, a delegada Ivone Rocha afirmou que, até o último dia 21 de agosto, quando estava no município, ainda não tinha recebido o boletim para dar encaminhamento às investigações e pedir a prisão preventiva do suspeito. Ivone está em Manaus, de licença médica, e retorna para São Gabriel da Cachoeira na próxima semana.
Legislação A legislação que pune abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes encontra-se na Constituição Federal, no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Na Constituição, encontra-se no artigo 227, parágrafo 4º. “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente”.
No ECA, os tipos de penas estão mais detalhadas. Elas são aplicadas conforme a gravidade do crime.
No Código Penal, abuso, violência e exploração sexual de crianças e adolescentes são enquadrados penalmente como corrupção de menores (art. 218) e atentado violento ao pudor (art.214 ), caracterizado por violência física ou grave ameaça.

sábado, 27 de outubro de 2012

SOS - Nação Indigena




Governo do RJ compra antigo Museu do Índio e deve demolir prédio por reforma do Maracanã

Vinicius Konchinski  
 Do UOL, no Rio de Janeiro
O governo do Rio de Janeiro acertou a compra do antigo Museu do Índio. O edifício histórico, que pertence à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve agora ser demolido para dar espaço a adequações do entorno do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014.

COMO FICARÁ O MARACANÃ

  • Veja o vídeo sobre o projeto de reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014. A obra deve custar R$ 859 milhões e será paga pelo governo do Rio de Janeiro. A previsão de entrega é fevereiro de 2013
A venda foi confirmada na quarta-feira pela Conab, órgão ligado ao governo federal. Pelo prédio e o terreno que ele ocupa, o governo do Rio de Janeiro pagará R$ 60 milhões. O valor foi determinado por uma avaliação feita pela Caixa Econômica Federal e aprovado em reunião da diretoria da companhia realizada no último dia 10.
De acordo com a Conab, a posse do imóvel deve ser repassada ao Estado do Rio de Janeiro nos próximos dias. Somente algumas questões burocráticas precisam ser resolvidas antes da transferência da propriedade e para que o governo possa pôr em prática seu plano para a área.
Há um mês, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, informou que já negociava com a Conab a compra do imóvel. Segundo ele, as adequações do Maracanã para a Copa do Mundo e a Copa das Confederações, no ano que vem, já previam que o prédio do antigo Museu do Índio, construído no século 19, desse lugar a uma área livre para que pessoas circularem perto do estádio. O próprio vídeo da reforma do Maracanã para a Copa já mostra a área sem o antigo museu (veja ao acima). 
"Ali vai ser uma área de mobilidade. Uma área que é exigida pela Fifa e que está correta", afirmou Cabral, em entrevista coletiva na véspera do aniversário de 62 anos do Maracanã.

CONHEÇA A ALDEIA MARACANÃ

  • Veja como vivem os índios que ocupam a área do antigo Museu do Índio, que deve ser demolido durante a reforma do Maracanã
Todo esse projeto, porém, é uma ameaça para cerca de 20 índios que ocupam aquela área há seis anos. Quando chegaram lá, o local estava abandonado. Tempos depois, eles construíram casas ali e transformaram o prédio do museu em um centro cultural improvisado.
Atualmente, eles lutam pela posse da área para transformá-la em um pólo de referência para a cultura indígena. “Queremos criar um local que servirá para toda a população indígena do Brasil. Não vamos desistir disso”, afirmou Carlos Tucano, um dos líderes dos índios que vivem no terreno do museu, ao ser informado da negociação da área pela reportagem do UOL.
Perguntada sobre o destino dos índios que vivem no terreno do museu, a Conab informou que estuda uma forma para removê-los dali e realocá-los em um outro local. Procurado pelo UOL, o governo do Rio de Janeiro confirmou que fez uma proposta para compra do imóvel, mas disse que ainda não foi notificado oficialmente pela Conab para saber se companhia iria mesmo vendê-lo. Por isso, o governo não iria se pronunciar sobre a negociação nem sobre os planos para a área.

Índios temem ser expulsos de terreno abandonado ao lado do Maracanã

Foto 1 de 7 - Índio fuma dentro do Museu do Índio, abandonado desde 2006 e localizado em frente ao estádio do Maracanã em reforma, no Rio de Janeiro. Um grupo de 17 índios de diversas etnias que ocupa o local teme que as obras para a Copa do Mundo os expulssem de lá. Está prevista a construção de um estacionamento com 10 mil vagas no entorno Sergio Moraes/Reuters

Obras da Copa

Foto 1 de 200 - Em 23/10/2012, mais da metade das cadeiras do Mineirão, sede da Copa 2014, já estava instalada Sylvio Coutinho/Divulgação

 

863 índios se suicidaram desde 86… e quase ninguém viu ou soube

Terra Magazine - Bob Fernandes - 23/10/2012
Nas últimas semanas, além do futebol de sempre, dois assuntos ocuparam as manchetes: o julgamento do chamado "mensalão" e, na campanha eleitoral em São Paulo, o programa de combate à homofobia, grotescamente apelidado de "Kit Gay". Quase nenhuma importância se deu a uma espécie de testamento de uma tribo indígena. Tribo com 43 mil sobreviventes.
A Justiça Federal decretou a expulsão de 170 índios da terra em que vivem atualmente. Isso no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, à margem do Rio Hovy. Isso diante de silêncio quase absoluto da chamada grande mídia. (Eliane Brum trata longamente do assunto no site da revista Época nesta segunda-feira, 22). Há duas semanas, numa dramática carta-testamento, os Kaiowá-Guarani informaram:
- Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui, na margem do rio, quanto longe daqui. Concluímos que vamos morrer todos. Estamos sem assistência, isolados, cercados de pistoleiros, e resistimos até hoje (…) Comemos uma vez por dia.
Em sua carta-testamento os Kaiowá-Guarani rogam:
- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.
Diante dessa história dantesca, a vice-procuradora Geral da República, Déborah Duprat, disse: "A reserva de Dourados é (hoje) talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo". 
Em setembro de 1999, estive por uma semana na reserva Kaiowá-Guarani, em Dourados. Estive porque ali já se desenrolava a tragédia. Tragédia diante de um silêncio quase absoluto. Tragédia que se ampliou, assim como o silêncio. Entre 1986 e setembro de 1999, 308 índios haviam se suicidado. Em sua maioria, índios com idade variando dos 12 aos 24 anos. 
Suicídios quase sempre por enforcamento, ou por ingestão de veneno. Suicídios por viverem confinados, abrutalhados em reservas cada vez menores, cercados por pistoleiros ou fazendeiros que agiam, e agem, como se pistoleiros fossem. Suicídios porque viver como mendigo ou prostituta é quase o caminho único para quem é expelido pela vida miserável nas reservas.
Italianos e um brasileiro fizeram um filme-denúncia sobre a tragédia. No Brasil, silêncio quase absoluto; porque Dourados, Mato Grosso, índios… isso está muito longe. Isso não dá ibope, não dá manchete. Segundo o Conselho Indigenista Missionário, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 habitantes para cada 100 mil. No Iraque, esse índice é de 93 pessoas para cada 100 mil.
Desde fins de 1999, quando, pela revista Carta Capital, estive em Dourados com o fotógrafo Luciano Andrade, outros 555 jovens Kaiowá-Guarani se suicidaram no Mato Grosso do Sul, descreve Eliane Brum. Sob aterrador e quase absoluto silêncio. Silêncio dos governos e da chamada mídia. Um silêncio cúmplice dessa tragédia.